Contribuir sem esperar contrapartida funciona?

O equilíbrio entre dar e receber em relacionamentos interpessoais foi visto de forma tão fundamental pelo psicoterapeuta Bert Hellinger, que transformou-se em uma das 3 principais leis sistêmicas, que garantem o bom funcionamento das relações, a lei do equilíbrio da troca.

Segundo essa lei quando uma relação entra em desequilíbrio, quem doa mais sente-se no direito de cobrar e quem recebe mais acaba se sentindo constantemente em dívida. E esse desequilíbrio afeta o relacionamento, seja ele amoroso, afetivo ou profissional que se torna disfuncional.

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Importante citar que ao falarmos de dar e receber aqui estão sendo considerados qualquer tipo de recurso: tempo, conhecimento, dinheiro, atenção, compreensão,  tolerância, carinho, cuidado...

Por outro lado o estudo da psicologia positiva e da felicidade mostram o efeito positivo que a doação tem como caminho da felicidade e bem estar de quem doa. Em uma escala de 4 níveis de felicidade, da mais efêmera, alcançada por exemplo quando você compra uma roupa nova, à mais profunda, aquela transcendente, a doação se encaixa no nível 3, logo abaixo à felicidade máxima. E teria relação com nosso desejo de deixar um legado, de impactar positivamente outras pessoas, de ir além de nossa própria fronteira pessoal.

Adam Grant, em seu livro “Dar e Receber” veio apaziguar essa aparente divergência. No livro, ele fala sobre três tipos de personalidades: os doadores, os tomadores e os compensadores:

  • Os doadores são pessoas que não se preocupam com o tal equilíbrio de troca, elas empatizam facilmente com as necessidades alheias e tem a contribuição como valor pessoal, ou seja, contribuem sem esperar recompensa.

  • Os tomadores são os malandrões, aqueles que acreditam no mundo de escassez e soma zero, onde se alguém ganha o outro perde, então quem tem que ganhar são eles, portanto estão sempre focados nos próprios interesses.

  • E por fim, os compensadores, aqueles que dão na medida que recebem, e se preocupam em manter o equilíbrio da troca.

No livro, Adam mostra que colocando os tipos em uma pirâmide de medida de sucesso o tipo doador estaria na base da pirâmide, mas também no topo. E no meio estariam os tomadores e compensadores. E aí vem o pulo do gato! A diferença entre os doadores do topo e da base da pirâmide – enquanto os doadores do topo respeitam os próprios interesses, limites e prioridades, os da base estão tão focados no outro que passam por cima de si mesmos e por isso não avançam nas próprias conquistas.

Muitas vezes esse exagero na doação vem do desejo consciente ou inconsciente de sermos vistos, amados, aceitos e reconhecidos, o que remete a 1ª lei sistêmica lá do Hellinger, que é a do Pertencimento, a necessidade tão visceral que temos de possuir vínculos significativos. Contribuímos criando uma expectativa de retorno, não necessariamente do mesmo recurso, que ao não ser atendida cria uma frustração e baixa energia.


E aqui fica claro o provérbio famoso, a diferença entre o remédio e o veneno está na dose!


A contribuição e doação permitem que você crie relações positivas, inspire comportamentos agregadores, aumente sua zona de influência, impacte positivamente a vida de outras pessoas e assim contribua também para viabilizar oportunidades de sucesso com uma pegada positiva, além disso, permite gerar em você uma sensação duradoura de felicidade.  Porém, quando em excesso e sem respeitar os próprios interesses e limites, o comportamento torna-se um sabotador, que o impede de realizar seus próprios objetivos, deixando-o estagnado e desmotivado, pois seus recursos foram desviados para adubar outros terrenos.

Como em tudo na vida o segredo está no equilíbrio, cabe aqui o paradoxo das máscaras de oxigênio dos aviões, coloque primeiro a sua, para depois ajudar a quem precisa. Por fim, Adam Grant em seu livro sugere algumas ações para promover hábitos de doação em nosso dia a dia, com o que ele chama de favores de 5 minutos, como oferecer feedbacks construtivos, conectar pessoas com interesses comuns, ser mais solidário...


Em tempos de quarentena, por que não ajudar compartilhando conhecimento, fica aqui minha contribuição. Você pode fazer a sua ajudando a esse artigo chegar mais longe! 

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